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Mulher de SC quer criar mutirão com 700 mil advogadas para combater violência doméstica

Prevenção. Esse é o foco da advogada catarinense Tammy Fortunatto, de 47 anos, que assumiu neste mês a presidência da Comissão de Combate à Violência Doméstica do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Especialista no tema, a defensora assume o cargo com o desafio de atuar fortemente com a educação e, dessa maneira, reduzir índices que ainda preocupam: dados da Rede de Observatórios da Segurança, por exemplo, apontaram que a cada 24 horas, em média, 13 mulheres foram vítimas de algum tipo de violência em 2024 no Brasil. Entre as medidas, está a proposta de um mutirão com 700 mil advogadas brasileiras.

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O trabalho da advogada dentro do campo da violência doméstica não é recente. Formada em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (2002) e doutoranda em Estudos de Gênero e Políticas de Igualdade na Universidade de Salamanca, na Espanha, ela atua há mais de 20 anos com pautas ligadas ao direito da mulher e na luta contra a violência de gênero. Na OAB/SC, por exemplo, foi presidente das comissões da mulher advogada por duas gestões. Já no Instituto dos Advogados de Santa Catarina (IASC), foi presidente da comissão de defesa e igualdade de gênero, da comissão de combate à violência doméstica e da comissão de combate às violências contra a mulher. Tammy também é autora do livro “Feminicídio: aspectos e responsabilidades”. 

Para ela, a nomeação para uma das principais comissões da OAB Nacional é um reconhecimento da atuação feita em Santa Catarina. 

— Sinto-me profundamente honrada em ter meu nome reconhecido como referência, no cenário catarinense, quando o tema é o enfrentamento à violência contra a mulher. Ser nomeada a primeira presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica do Conselho Federal da OAB é, para mim, uma honra ainda maior – é o reconhecimento de um trabalho construído com seriedade e compromisso há mais de vinte anos — diz. 

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Foco será o debate e o enfrentamento 

De acordo com Tammy, o principal desafio como presidente da Comissão será levar o debate e a prática do enfrentamento à violência para as advogadas de todo o país, além da capacitação para atuação nas ocorrências. 

— Assumir a presidência da Comissão traz consigo um desafio imediato: levar o debate e a prática do enfrentamento à violência doméstica às mais de 700 mil advogadas brasileiras, muitas das quais também são vitimadas por esse fenômeno. Paralelamente, propomos uma capacitação contínua da advocacia para a atuação qualificada em casos de violência doméstica, familiar e nas relações íntimas de afeto, assegurando um atendimento mais sensível, técnico e transformador — salienta. 

Para isso, ela pretende criar campanhas de conscientização em escolas, universidades e empresas. Outra medida será inserir o tema nos cursos de formação e aperfeiçoamento da própria OAB, assim como em eventos institucionais. 

Confira o especial “Cicatrizes: as marcas do feminicídio” sobre violência doméstica

Tema ainda é desafio no Brasil 

A entrada da advogada catarinense para a Comissão ocorre em um momento onde os números de violência contra a mulher trazem um cenário alarmante. De acordo com uma pesquisa do Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e publicada em março deste ano, mais de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de agressão nos últimos 12 meses. O mesmo levantamento também mostra que 32,4% das mulheres sofreram algum tipo de violência ao longo da vida por parceiro ou ex-parceiro — o número é superior à média global, que é de 27%, conforme o relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

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— Vivemos hoje um cenário que, embora registre avanços importantes, ainda está marcado por desigualdades estruturais, omissões institucionais e fragilidades no acolhimento das vítimas. A Lei Maria da Penha é um marco jurídico reconhecido internacionalmente, mas sua aplicação plena ainda é obstaculizada pela falta de estrutura, de recursos e, muitas vezes, de vontade política em diversas regiões do país. Ainda enfrentamos subnotificação massiva, ausência de delegacias especializadas, juizados exclusivos e atendimento psicológico e jurídico continuado às vítimas. Além disso, persistem graves falhas na articulação entre os sistemas de segurança pública, justiça e assistência social, o que compromete a efetividade da proteção — pontua. 

Tammy também cita o crescimento nos casos de feminicídio. Só em 2024, 1.459 mulheres foram vítimas do crime no Brasil, conforme dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), sendo o maior número da série histórica no país. Em seu livro, lançado em 2023, a advogada explora os aspectos do crime e a forma como ele está enraizado na sociedade desde os primórdios da humanidade. 

— Os índices de feminicídio seguem em ascensão, e a cultura de tolerância à violência, muitas vezes disfarçada de silêncio, omissão ou desinformação, ainda se reproduz dentro dos lares, nas instituições e até nos discursos públicos — complementa. 

“É possível construir um país mais seguro para as mulheres” 

Apesar dos índices, Tammy é confiante ao pensar que é possível erradicar a prática da violência. No entanto, para que isso ocorra, é preciso olhar além dos números. 

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— Acredito que é plenamente possível construir um país mais seguro para as mulheres, desde que as ações sejam formuladas com base não apenas em estatísticas, mas também em histórias reais. O enfrentamento à violência doméstica exige presença constante, articulação de esforços e sensibilidade para encarar as causas profundas da desigualdade de gênero — salienta. 

E para que isso ocorra, a advogada reforça que é necessário trabalhar desde cedo com a prevenção: 

— Durante os anos dedicados ao estudo e à atuação prática nas violências contra a mulher, compreendi que o primeiro passo para erradicar a violência doméstica é investir seriamente na prevenção. O estado brasileiro é signatário da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará), mas só conseguiremos cumprir efetivamente esse compromisso internacional se tivermos coragem de agir na raiz do problema. 

Confira fotos da nomeação da advogada

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Nomeação reforça protagonismo em nível nacional, diz ex-vice-presidente da OAB 

A posse de Tammy como presidente da Comissão ocorreu no último dia 4 de abril, na sede da OAB em São José, na Grande Florianópolis. De acordo com o conselheiro federal da OAB/SC, coordenador-geral das Comissões do CFOAB e ex–vice-presidente nacional da entidade, Rafael de Assis Horn, a nomeação da catarinense reflete o compromisso do debate de pautas sociais urgentes. 

— Tammy tem um comprometimento com a pauta e eu não tenho dúvidas que essa é a primeira das nomeações, dentro dos espaços que nós conseguimos abrir lá em Brasília, que vão certamente blindar Santa Catarina a um espaço ainda maior, que é o que merece dentro da qualidade que tem sido prestada aos serviços da advocacia — disse na ocasião. 

Já para o presidente da Seccional em Santa Catarina, Juliano Mandelli, a chegada de Tammy à presidência mostra uma união entre os advogados catarinenses. 

— Nosso time está muito fortalecido. As nossas lideranças estão assumindo papéis de destaque. O Estado de Santa Catarina tem um time muito forte. Só iremos vencer essas adversidades se a advocacia estiver unida — destacou. 

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Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link

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