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Em meio a incertezas sobre cota, pescadores dão início à safra da pesca da tainha em SC

A temporada da pesca da tainha está aberta a partir desta quinta-feira (1º) em Santa Catarina. Em uma prática que movimenta a economia e celebra a tradição passada entre gerações, pescadores apostam em uma boa safra, mas veem com receio as cotas impostas pelo governo federal na modalidade de arrasto.

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Ivanir Aroldo Faustino, de 52 anos, pescador e coordenador do Rancho de Pesca do Seu Getúlio, na praia do Campeche, explica que quando a pesca do ano passado terminou, a preparação para a safra desse ano já teve início.

— A gente foi ‘desprofiando’, como o pescador fala, que tira as peças da rede para poder fazer uma manutenção com menos trabalho. Então, se estende duas peças ou uma peça num varal, ali na lateral do rancho, e começa a fazer a manutenção — detalha.

A manutenção é feita nas redes que tem entre 800 e 900 metros. Atualmente, o rancho conta com duas redes do tipo feiticeira para tainha e três canoas, sendo que duas delas têm permissão para a pesca. A terceira está na Lagoa do Peri, sendo utilizada para aulas de remo. São cerca de 60 pescadores que atuam de segunda a sexta, além dos familiares que auxiliam nos finais de semana.

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A expectativa para este ano é boa, com mais peixes do que no ano passado, quando o rancho foi o que menos capturou na região. Ivanir explica que quando o peixe encostou na região, foi da Praia da Joaquina para o Norte da Ilha, e por isso os quatro ranchos pegaram em torno de 22 mil tainhas, somente. O Rancho do Seu Getúlio capturou em torno de 1.400 tainhas.

— O comentário, a gente tem parente lá no Rio Grande do Sul, que de onde sai o peixe lá, próximo a Lagoa dos Patos, lá perto da praia do Cassino, que tem muito movimento do peixe. Eles pegaram muito peixe dentro da Lagoa dos Patos esse ano e o comentário é que vai vir muito peixe pra cá, mas a gente vai se esbarrar na cota — pontua Ivanir.

Pescadores se preparam para a safra da tainha

Cota da tainha gera impasse

Em fevereiro, uma portaria do governo federal estabeleceu um limite para a captura da tainha nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, medida que tem sido criticada por pescadores.

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O Governo de Santa Catarina entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter a decisão, mas o ministro Gilmar Mendes entendeu que o STF não era a jurisdição adequada para julgar o caso. Nesta terça (29) uma nova ação, desta vez na Justiça Federal, foi protocolada pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE/SC) para tentar derrubar as cotas da pesca artesanal de praia da tainha.

O limite total para a safra deste ano é de 6.795 toneladas. Para a pesca artesanal, há uma limitação exclusiva aos pescadores catarinenses. A modalidade tem um limite de captura de 1.100 toneladas. Na safra de 2024, foram capturadas mais de 2 mil toneladas de tainha.

A cota é exclusiva para os pescadores artesanais catarinenses. Nas demais modalidades, a restrição ficou dividida da seguinte forma:

  • 600 toneladas para a modalidade de cerco traineira nas regiões Sudeste e Sul do Brasil;
  • 970 toneladas para a modalidade emalhe anilhado em Santa Catarina;
  • 1.725 toneladas de emalhe costeiro para as regiões costeiras do Sudeste e Sul do Brasil;
  • 2.300 toneladas no estuário da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul.

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Ivanir afirma que no Rancho de Pesca do Seu Getúlio o assunto preocupa. Isso porque a cota para a pesca artesanal é para todo o Estado, e pode ser atingida em praias que tem condições mais propícias para a pesca sem que outras praias, como a do Campeche, tenham capturado peixes.

— Essa cota veio para prejudicar mesmo o pescador, o pescador artesanal, porque eles colocaram uma cota para Santa Catarina inteira. Então se estourar essa cota nas redes de Bombinhas, dos Ingleses, e a gente não tiver condições de entrar aqui no mar para fazer o cerco, o Campeche vai ficar sem ‘molhar rede’, como a gente fala — afirma.

Ele afirma que uma alternativa seria a cota ser por praias ou ranchos, o que seria algo mais igualitário. Da forma como foi definido, alguns ranchos podem ser mais impactados do que outros.

— Vai ter ranchos que a gente trabalhou o ano inteiro, os donos gastaram um monte para que a coisa acontecesse, manutenção de canoa, manutenção de rede, almoço para os pescadores virem para o rancho para que possa construir a rede, vai ser tudo em vão, vai ficar no negativo — destaca o pescador.

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Limites também em alto mar

O pescador da Armação Carlos Pedro Martins Júnior, de 54 anos, vê um lado bom na cota, mas também problemas na forma como ela foi definida, sem consulta aos pescadores. Ele pesca a tainha em alto mar, e a partir de agora não poderá pescar de Itajaí para o Norte.

— A pesca da tainha é uma pesca de passagem. Aí se der um vento sul forte quando o peixe vem aqui, esse peixe vai bater lá para São Francisco e ninguém vai ver mais ele. E aí eu não matei tainha e o peixe passou. Então nessa parte eles erraram. Eles podiam até fazer essa lei, mas teriam que consultar a gente primeiro — afirma.

Ainda, enquanto no último ano a embarcação pegou 25 toneladas, o número este ano não pode ultrapassar as 15 toneladas, limite estabelecido pela cota. Em contrapartida, ele afirma que a cota mantém o pescado, já que se não existir uma cota, algumas embarcações pescam um grande número de toneladas. E há os barcos que não podem pescar e que também pescam, causando impactos na natureza.

Quando chega a tainha?

Ivanir, do Campeche, diz que a tainha deve demorar para chegar. Ele afirma que a tainha pode aparecer para a tarrafa ou para um lance de cardume menor. É raro, contudo, que já em um primeiro cerco sejam capturadas muitas tainhas.

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— O primeiro peixe que chega sempre é um peixe menor, um peixe mais daqui de perto. A gente fala de barriga de lama, porque é um peixe que não pegou ainda esse tempo no mar para fazer a limpeza dele da lagoa para o mar — explica o pescador.

Já Carlos Pedro, da Armação, acredita que o peixe chega logo na região devido ao vento sul dos últimos dias. O peixe tem a característica de aparecer junto com o vento e clima frio.

— Com esse ventinho sul, como deu ontem e hoje tá de novo, a madrugada, a noite tá fria, a tainha ela anda só com a ‘friagem’. Quando a gente ver, vai ter tainha aqui — aposta.

O pescador conta que a preparação para a safra da tainha ainda deve seguir pela próxima semana, com os últimos ajustes no barco que irá para alto mar. O tipo de pesca praticado por ele, em um grupo de seis a sete homens, só tem permissão para pescar a partir do dia 15 de maio.

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Infográfico: Tainha: maneira antiga, artesanal e coletiva de se pescar

A preparação do barco e das redes tem início cerca de um mês antes da liberação para a pesca. Com o barco, que tem 15 anos de história, eles passam o dia em alto mar, e depois retornam. Dependendo de onde está o peixe, por vezes deixam o barco parado e dormem em cidades na costa de Santa Catarina.

A temporada de pesca da tainha segue regras diferentes dependendo do tipo de técnica usada pelos pescadores. Veja as datas em que a pesca da tainha é permitida conforme a modalidade:

  • Arrasto de praia: pesca é permitida de 1º de maio a 31 de dezembro.
  • Emalhe anilhado: pesca é permitida 15 de maio a 31 de julho.
  • Emalhe de superfície (até 10AB): pesca é permitida de 15 de maio a 15 de outubro.
  • Emalhe de superfície (acima de 10AB): pesca é permitida de 15 de maio a 31 de julho.
  • Cerco/traineira: pesca é permitida de 1º de junho a 31 de julho.

Pesca da tainha passa por gerações

A pesca da tainha está na família de Ivanir há quatro gerações. Ele é genro do seu Getúlio, figura que dá nome ao tradicional rancho de pesca que recebe as celebrações do início da safra da tainha todos os anos.

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— A pesca artesanal do Campeche, eu que sou nativo do Campeche, ela vem lá dos meus bisavós. Então meu bisavô pescava, meu avô pescava, meu pai pescava e hoje eu me encontro pescando. Meu pai era remeiro e patrão da rede, que é o que comanda — conta.

Seu Deca, pai de Getúlio, colocava o nome das filhas nas canoas. A canoa Glória é a única que resiste, já que outras duas embarcações se perderam em um incêndio em 2023, um dia antes do início da pesca da tainha naquele ano.

A canoa feita com uma única árvore, o guarapuvu, árvore símbolo de Florianópolis, vai completar 140 anos. Tradição que atravessa gerações e faz parte da herança cultural do Campeche.

O pai de Ivanir faleceu em 1992 quando estava indo buscar a canoa Glória, que estava em manutenção na Tapera, devido a um infarto, aos 62 anos.

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— Então meu pai morreu da pesca para a pesca, ele era funcionário do IFSC, que antigamente era Escola Técnica Federal. Quando se aposentou, ele se entregou à pesca, a vida dele já trabalhando no IFSC, ele também complementava o sustento da nossa família através dos peixes, pescando — explica.

No caso de Carlos Pedro, a pesca da tainha também vem de família. Aos 15 anos, começou a pescar com o avô, e desde então não teve um ano que deixou de capturar o pescado.

Ele conta que passa noites em claro na expectativa do outro dia, sem saber como será a saída para a pesca, para onde vai, se vai ter peixe. Anseios que são remediados pela fé em Nossa Senhora Aparecida, da qual carrega uma imagem no barco.

— Eu tenho a minha Nossa Senhora Aparecida ali, e o cara sai pro mar, também pede pra ela, pede pro nosso Espírito Santo. Isso é um pedido que a gente faz todo dia. Eu vou no leme ali, eu tô conversando com ela, tô rezando. Ela me acompanha — afirma.

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Programação da abertura da Pesca da Tainha 2025

Quinta-feira – 1º de maio

Praia do Campeche – Rancho do Getúlio

  • 7h30 – Café comunitário. Confecção de rede da pesca da tainha com pescadores artesanais. Presença no rancho do Coletivo Casa das rendas do Campeche. Confecção de balaios com o artesão Valter Lindolfo da Silva. Live painting (pintura ao vivo) com Marii Rubín
  • 8h30 – Homenagem aos professores do projeto Música do Rancho da Canoa do Instituto Getúlio Manoel Inácio.
  • 9h – Procissão acompanhada pelo Grupo Música do Rancho da Canoa. Hasteamento das bandeiras com representantes da história da pesca artesanal de Santa Catarina e da nova geração. Missa na praia.
  • 10h30 – Benção aos pescadores de todo o litoral Catarinense.
  • 10h45 – Lançamento da pedra fundamental da nova obra do rancho de pesca sociocultural Getúlio Manoel Inácio. Benção no rancho de pesca sociocultural Getúlio Manoel Inácio.
  • 11h10 – Pescadores e a pesca da tainha: conquistas, desafios e expectativas para a safra 2025
  • 11h30 – Apresentação artística: “Causos com Dona Bilica”.
  • 13h30 – Apresentação da Capoeira Casa Cultural Canela Preta. Oficina de pesca (Cultura da Pesca Artesanal: compartilhando saberes) com Ivanir Faustino. Apresentação musical com Edu Madma acústico e participação de Harnnon Cardoso.
  • 14h30 – Apresentação da Banda de música do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina. Limpeza de praia com Instituto Nexxera – Voluntários Nexxees.
  • 15h30 – A pesca e o surf: história e avanços na praia do Campeche. Roda de conversa com o pescador Claudinei José Lopes, o surfista Robson Martins e a mediação de Carla Inácio, diretora-presidente do Instituto Getúlio Manoel Inácio. Oficina ambiental: separação adequada dos resíduos recolhidos na praia. Contação de história “A viagem de Itajara” com o Instituto Meros do Brasil.
  • 16h – Exposição e oficina ambiental com o projeto Tamar.
  • 16h30 – Apresentação do Boi de mamão do Campeche.

Jurerê Internacional (próximo ao P12)

  • 11h – Missa
  • 12h – Almoço (feijoada)

Praia do Moçambique – Rancho João da Passa

  • 14h – Início com celebração, apresentação cultural e café da tarde

Sábado – 3 de maio

Praia do Pântano do Sul – Em frente ao Rancho de Pescadores na Praia

  • 8h – Bênção aos pescadores e café da manhã

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