Um agricultor do RS encontrou dezenas de cobras-verdes agrupadas em pé de mexerica. O caso inusitado virou objeto de pesquisa do Instituto Butantan e artigo em revista científica internacional.
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Em 2021, Telmo Santos fez descoberta surpreendente em sua propriedade rural: dezenas de cobras vivas penduradas como um cacho de frutas. A imagem viralizou e chamou atenção de cientistas.
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As cobras-verdes (Philodryas olfersii) estavam agrupadas em galho de mexerica no município de Santo Antônio da Patrulha (RS). “Fiquei chocado com a quantidade”, contou o agricultor.
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A foto postada no Facebook chegou às pesquisadoras Karina Banci e Silara Batista, do Butantan. Elas identificaram um raro fenômeno reprodutivo e publicaram estudo na Herpetological Review.
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O que explica o “cacho de cobras”?
Trata-se de uma agregação reprodutiva, quando vários machos se reúnem ao redor de uma fêmea. É como um torneio natural de acasalamento, explica a bióloga Karina Banci.
O fenômeno já era conhecido em sucuris e corais-verdadeiras, mas nunca documentado nesta espécie. A fêmea libera feromônios que atraem até 30 machos simultaneamente.
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Veja também: as espécies de Jararacas existentes no Brasil

Esse é um exemplo de uma jararaca do gênero Bothrocophias, derivado do Bothrops (Foto: Wikimedia Commons)

Há no Brasil atualmente dois gêneros de jararaca. Na foto há uma do gênero Bothrops, nomenclatura que foi desmembrada taxonomicamente para abranger as espécies do país (Foto: Banco de Imagens)

Na imagem é possível verificar características morfológicas gerais das jararacas, como os desenhos corporais em “V invertido” e sua cauda lisa (Foto: Marcus A. Buononato; Giuseppe Puorto; Guia de Animais Peçonhentos do Brasil)

De hábitos predominantemente crepusculares e noturnos, a maioria das jararacas é terrestre, com algumas espécies arborícolas. Na foto, uma jararaca-de-alcatraz flagrada no Instituto Butantã (Foto: Wikimedia Commons)

A grande maioria das espécies de jararacas é agressiva, exibindo defesas territoriais, conforme explica o Guia de Animais Peçonhentos do Brasil. Na foto, uma Bothrocophias microphthalmus (Foto: Wikimedia Commons)

De modo geral, as fêmeas são maiores, mais agressivas, produzem mais veneno e, como consequência, acidentes mais graves. Na foto, uma Bothrops mattogrossensis (Foto: Wikimedia Commons)
Seleção natural em ação
Os cientistas acreditam que essa competição permite à fêmea selecionar indiretamente o parceiro mais apto. “Não é consciente, mas resulta em filhotes mais fortes”, detalha o estudo.
O comportamento aumenta as chances de sucesso reprodutivo. Os machos podem permanecer agrupados por dias até o acasalamento ocorrer.
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Por que em árvores frutíferas?
As cobras-verdes são arborícolas e usam árvores como ponto de encontro. O pé de mexerica oferecia apoio ideal e camuflagem perfeita entre folhas e frutos.
Muitas pessoas passariam sem notar. A espécie não é venenosa, mas pode causar acidentes quando perturbada.
Da fazenda para o mundo científico
O caso mostra como observações cotidianas podem contribuir para a ciência. “Sem o registro do agricultor, perderíamos esse dado”, afirmam as pesquisadoras.
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O estudo ajuda a entender melhor o comportamento reprodutivo de serpentes e sua ecologia no ambiente natural.
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