Quando se fala que parte do mercado financeiro do Brasil está se concentrando em Santa Catarina, o principal exemplo é a EQI Investimentos, que em 2023 se tornou corretora de valores mobiliários e acelerou crescimento. O fundador e CEO da empresa, Juliano Custodio, revela que ela acaba de alcançar R$ 40 bilhões em custódia, com maior captação de recursos em Santa Catarina.
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O crescimento está em ritmo menor em função dos juros altos, mas o CEO destaca que desde que se tornou corretora, a EQI ampliou a oferta de serviços e de colaboradores. Além de investir recursos (asset), faz empréstimos para investimentos, fusões e aquisições e outros negócios, principalmente no Brasil, onde tem 13 escritórios, mas também no exterior, por meio de unidade em Miami, EUA.
Veja imagens de unidades da EQI e do fundador e CEO da instituição, Juliano Custodio:
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Parceira do BTG Pactual desde 2020, a EQI conta com mais de 80 mil clientes ativos. Projeta fechar este ano com R$ 50 bilhões em custódia, com crescimento em SC e no Brasil. A unidade maior é a matriz, em Itajaí, com R$ 9 bilhões em gestão, seguida por Florianópolis, R$ 8 bilhões. Depois, em SC, vem Chapecó, com R$ 2 bilhões, e Joinville, onde o escritório é mais novo, com R$ 1,3 bilhão.
A EQI iniciou atividades em Balneário Camboriú, em 2008, como Índice Investimentos. Depois, graças ao sucesso do blog Eu Quero Investir, a marca mutou para EQI. Com o crescimento da empresa, o grande espaço mais próximo foi localizado na Praia Brava, bairro de empreendimentos de luxo, colado em Balneário, para onde se mudou. Para crescer, vem investindo mais em marketing esportivo e também amplia o evento Money Week.
Nascido em Porto Alegre, RS, Juliano Custodio, é engenheiro eletricista graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Isso explica em boa parte porque a maioria dos profissionais de investimentos da empresa é engenheiro. Dos 1,2 mil colaboradores, cerca de 600 saíram de cursos de engenharia. A empresa está ampliando o quadro este ano em cerca de 500 pessoas. Saiba mais sobre a EQI na entrevista exclusiva de Juliano Custodio a seguir:
A EQI Investimentos passou por uma série de transformações. Como ela está hoje?
– Nós estamos muito bem! Imagine que, quando iniciamos toda essa mudança — de nos tornarmos uma corretora de valores, deixando de ser representantes da XP para montar nossa própria empresa — tínhamos cerca de R$ 9 bilhões sob custódia. Éramos, aproximadamente, trezentas pessoas na empresa.
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De lá para cá, alcançamos, nesta semana, a marca de R$ 40 bilhões sob custódia. Ou seja, somos quatro vezes maiores. Contamos com quatro vezes mais colaboradores. Desde então, deixamos de ser apenas um distribuidor de investimentos. Hoje, além da distribuição, temos uma asset (gestora de recursos), uma corretora de seguros, um banco de investimentos, uma área de dívida e de capital markets, uma área de M&A (fusões e aquisições). Ou seja, expandimos bastante o negócio.
E, no fim de 2023, o Banco Central nos autorizou a operar como corretora. O momento agora é de acelerar o crescimento — apesar de estarmos vivendo o pior cenário possível para o nosso tipo de negócio.
Por que este é o pior momento para a empresa?
– Épor causa dos juros. Juros altos são muito ruins, são muito prejudiciais para nós. Estamos enfrentando uma longa sequência de juros elevados. A taxa Selic está em 14,25% ao ano. Para que possamos oferecer bons investimentos às pessoas e atrair novos clientes, precisamos emprestar bem o dinheiro. Mas, para isso, o empresário precisa querer tomar crédito. Ele precisa enxergar futuro nos negócios — e um futuro grande o suficiente para compensar o juro elevado atual.
Estamos percebendo que os empresários estão com menos apetite para risco, com menos clareza em relação ao futuro. Isso torna mais difícil entregar bons investimentos de renda fixa, com rentabilidades atrativas e seguras. Enfrentamos uma grande dificuldade para emprestar dinheiro. Precisamos de bons projetos e de empresários otimistas.
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Está cada vez mais difícil encontrar otimismo diante de juros tão altos. Queremos investir, mas este é um momento desafiador para nós — e para todo o mercado, que precisa concorrer com os bancos. Nosso crescimento depende, em primeiro lugar, do aumento da poupança do brasileiro. Para que isso ocorra de forma sustentável, acima da inflação, é necessário crescimento econômico. Um crescimento econômico real, acima da inflação.
E como está a poupança do brasileiro?
– O brasileiro está poupando menos. Está saindo dinheiro da poupança, porque está faltando. A poupança até aumenta em termos nominais, mas não acompanha a inflação. Ou seja, em termos absolutos, cresce, mas em termos reais, não. Portanto, o brasileiro não está investindo mais. Principalmente a classe média e média alta — justamente a mais pressionada neste momento.
Já o brasileiro mais rico está indo bem. Mas a classe média e média alta está mais apertada. De qualquer forma, o melhor cenário para nós é de inflação e juros mais baixos. Com juros em 12%, a situação já melhora. O ideal seria uma taxa de 10%. Mas também não podemos reclamar tanto, porque, mesmo neste cenário adverso, crescemos 35% ao ano.
E poucas empresas conseguem esse desempenho. O que acontece é que nos acostumamos a crescer 70%, 80% ao ano. Então, ao crescer 35%, sentimos uma frustração. Mas também sabemos nos comparar. Não somos mais uma startup — somos uma empresa mais consolidada. E crescer 35% ao ano é um excelente resultado.
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Qual é o perfil predominante do investidor atendido pela EQI?
– O grosso do capital aqui é de pessoas com mais de R$ 500 mil guardados. Temos uma parcela grande com entre R$ 500 mil, R$ 1 milhão ou R$ 2 milhões. Mas o grande volume mesmo está nas mãos de quem tem acima de R$ 2 milhões. É mais o catarinense da indústria.
Como a EQI está conseguindo crescer 35% ao ano?
– Nós investimos muito em marketing. Neste ano, o investimento nessa área vai ultrapassar R$ 40 milhões — é um valor bastante expressivo. Enquanto muitas empresas investem entre 2% e 3% do faturamento em marketing, nós destinamos 8%. Trata-se de um investimento significativo, mas possível por sermos uma empresa de serviços. Temos espaço para aplicar mais recursos nessa frente. Esse investimento gera crescimento.
Além disso, investimos em uma boa oferta de produtos e em um serviço de qualidade para os clientes. Como resultado, recebemos muitas indicações. Nosso crescimento se apoia em três pilares: o investimento em marketing, o investimento na entrega de um bom serviço para gerar indicações e a expansão regional.
Em que regiões do país vocês estão expandindo mais?
– Nós estamos subindo o Brasil. Neste ano, inauguramos um pequeno escritório em Sinop (MT), onde ainda não estávamos presentes. Também estamos abrindo uma unidade em Recife. E, ao longo do ano, já abrimos 20 escritórios B2B — que funcionam como franquias, operadas por agentes autônomos conectados conosco.
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Por exemplo, temos uma unidade nova em São José dos Campos (SP), temos escritório em Boa Vista, Roraima também no modelo B2B, e em Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano. Estamos bem espalhados. Outras novidades incluem Cascavel, que também é um B2B com agente autônomo. Atualmente, entre operações B2B e B2C, estamos presentes em 58 cidades brasileiras.
Em que cidades de Santa Catarina a EQI está presente?
Estamos em seis cidades: Chapecó, Florianópolis, Joinville, Balneário Camboriú (Itajaí), Blumenau e Criciúma. A gente deve abrir em breve um escritório em Rio do Sul, onde temos grandes clientes. Provavelmente será um B2B. Também pensamos em outros B2B em Lages e no Meio-Oeste — talvez Videira ou Campos Novos. Temos escritórios em Tubarão e Criciúma.
Vocês têm uma captação elevada em Santa Catarina?
– Sim, bastante relevante. Foi aqui que tudo começou. Aqui temos a maior parte dos nossos assessores e nossos principais relacionamentos. Nossa maior captação é na matriz, em Itajaí, depois Florianópolis, São Paulo e Chapecó. Em Joinville temos um escritório mais recente. Devemos inaugurar em 15 dias um espaço maior, para 30 pessoas. Joinville tem indústria forte e isso contribui para uma formação profissional diferenciada.
Qual é a expectativa de ampliação da equipe de profissionais este ano?
– A gente já contratou bastante este ano. Acho que umas 150 pessoas. Mas devemos contratar mais cerca de 350. Essa é a nossa meta. São todos CLT. Depois que a EQI virou corretora, no final de 2023, fomos obrigados a encerrar todos os contratos da empresa antiga, zerar e montar uma nova. Aí tivemos que montar uma nova empresa, com todos os contratos CLT.
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E como vocês conseguem pessoas qualificadas? Vocês têm uma escola interna?
– Eu costumo falar muito com empresários e dou muita palestra. Muitos usam como desculpa para não crescer o fato de não ter gente qualificada. E realmente não existe gente qualificada no mercado. Os que são qualificados já estão empregados e ganham bem. Ainda mais aqui em Santa Catarina, que está em pleno emprego.
Pessoas qualificadas são caras ou já estão empregadas. Então, a gente tem que formar. Aqui é praticamente uma universidade. A gente leva isso tão a sério que montamos a PIB, uma faculdade que começou aqui no escritório e agora foi para outro lugar.
Fizemos uma sociedade com o empresário Mohamad Abou Wadi, da UniAvan, para formar pessoas que vão trabalhar com a gente. Criamos uma faculdade inspirada na FGV e no Insper. É um sucesso, ensina bem business e finanças. É uma faculdade de administração de negócios. Já estamos no terceiro trimestre.
A EQI faz anualmente um evento de finanças, a Money Week. O que você pode antecipar para a edição deste ano?
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– Vamos fazer a 11ª edição da Money Week no dia 1º de agosto. Será nossa terceira edição presencial. A primeira teve mil pessoas. Ano passado, quase 3 mil. Este ano, queremos chegar a 4 mil. Peguei um espaço maior no Expocentro Balneário Camboriú. Estamos fechando o set de palestras agora. Já temos confirmados o economista Paulo Guedes, o jornalista William Waack e David Richman, do Morgan Stanley, em Nova York. Fomos para lá ano passado, ele deu um treinamento incrível para nós. Estamos convidando o ex-presidente Michel Temer.
Dos 4 mil participantes, 2 mil serão de fora da cidade, isso significa muito movimento para a economia de Balneário Camboriú e região. Ano passado já lotamos os hotéis. Eu brinco que estamos deslocando um pouco o eixo do mercado financeiro para a Região Sul. Puxando o eixo para cá. A Money Week será uma grande festa.
Para projetar sua marca, a EQI está investindo mais em marketing esportivo. O que você destaca?
– Nosso grande investimento em marketing este ano é no tênis. Santa Catarina é um estado tradicional no tênis. Hoje patrocinamos três atletas. Dois treinam aqui em Itajaí, o Rafael Matos e o Marcelo Zormann. São dois dos maiores tenistas brasileiros. Dos quatro maiores do Brasil, só não temos o primeiro, o João Fonseca, porque a XP fez uma oferta maior que a nossa. Mas os outros três são nossos patrocinados, além de Matos e Zormann apoiamos o Thiago Monteiro.
Além disso, trouxemos para balneário Camboriú um dos maiores treinadores de tênis do Brasil, o Gringo (Walter Preidikman). Também estamos investindo no padel, que está crescendo muito em Santa Catarina. É outro investimento grande em marketing.
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Você já destacou que os juros altos são o principal entrave para a EQI crescer. Quando os juros básicos vão cair no Brasil, na sua avaliação?
– Depende muito da política. Depende do déficit. Do quanto o governo vai manter o déficit alto. Vai depender da campanha política. Quanto pior o governo estiver na campanha (para reeleição em 2026), mais déficit vai gerar, porque vai ter que lançar pacotes de bondades. Aí os juros ficam altos.
E se houver uma crise mundial em função das tarifas de Donald Trump, com queda do dólar, pode ajudar um o Brasil?
– Esse cenário existe. Acho que fui uma das primeiras pessoas no Brasil a dizer que essa movimentação do Trump foi boa para nós. Por quê? Porque isso está acelerando o nearshoring. Então, vai vir investimento para o Brasil. O México é o grande campeão desse movimento, para vender aos EUA, mas a gente está aqui pertinho.
Somos conhecidos por não entrar em guerra, não brigar com ninguém, temos recursos naturais… Então, somos um bom destino. E ainda temos a vantagem de que os Estados Unidos não nos enxergam como inimigos nessa guerra de tarifas. Nos deixaram com 10%, uma das menores alíquotas.
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Agora, tem um risco: por um lado, isso é bom. Por outro lado, temos um problema. Como a China está perdendo o mercado americano, vai precisar de outros mercados com grande população e algum poder de consumo. E aí pode ser que sejamos invadidos por produtos chineses.
Esse movimento do Trump de desvalorizar a moeda é muito bom para nós. O dólar mais baixo barateia muito as coisas no Brasil. Se por um lado perdemos com as exportações, por outro conseguimos arrefecer a inflação e baixar os juros.
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