Empresário com a mais rica e completa biografia de Santa Catarina trabalhou na política e, entre tantas conquistas, foi o responsável por levar o turismo da Capital para o mundo
Considerado um dos melhores estados do Brasil para se viver e trabalhar, para se divertir e curtir a exuberante natureza, Santa Catarina conta com arrojados empresários, criativos empreendedores e os mais qualificados gestores em todas as regiões. Nos últimos 65 anos, um dos destaques tem sido o economista e professor Fernando Marcondes de Mattos.
Durante quase sete décadas, é um dos mais qualificados estudiosos da realidade estadual e analista conceituado da conjuntura nacional. Investidor, construtor e visionário.
Os incontáveis títulos, homenagens e condecorações, merecidamente outorgados, resultam da multiplicidade das atividades exercidas. Elas ocorreram nos mais diferentes setores da atividade humana: no exercício do magistério superior; nas pioneiras iniciativas empresariais; na histórica contribuição em vários cargos públicos; no contínuo estudo sobre os desafios estaduais; na análise e solução dos problemas nacionais; e nos incentivos à diferentes práticas esportivas. E, sobretudo, na vanguarda de projetos e instituições voltadas para o desenvolvimento integral da Capital e do Estado, com ênfase para o turismo.
Filho do juiz João Marcondes de Mattos, ainda jovem, Fernando conheceu vários municípios do estado, na medida em que seu pai era transferido de comarca. Em cada região, uma experiência recreativa e esportiva diferente.

Experiência
Veio para Florianópolis estudar na faculdade de direito. Exímio datilógrafo, foi contratado pelo Senai, na época dirigido pelo professor e economista Alcides Abreu, formado pela Sorbonne. Virou seu principal colaborador. Trabalharam juntos durante sete anos, o que proporcionou ao acadêmico e posterior bacharel uma das mais ricas experiências políticas, administrativas e econômicas de sua vida.
Acompanhou os históricos Seminários Socioeconômicos, a mais qualificada pesquisa já feita até então em Santa Catarina e base do excepcional Plameg (Plano de Metas do Governo). Foi o datilógrafo dos pronunciamentos de Celso Ramos na campanha ao Senado, em 1958 (derrotado), e ao governo do Estado, em 1960 (vitorioso).
Dedicação à política

Atuou como assessor técnico do governador Celso Ramos, elaborou os atos constitutivos do BDE e BRDE. Fez, no Rio de Janeiro, o famoso curso na Cepal, e acabou diretor da Sotelca. Ocupou depois a diretoria financeira da Eletrobrás, quando defendeu a transferência da Eletrosul para Florianópolis.
Na esfera pública, outros destaques. Em 1986, indicado vice-governador na chapa de Vilson Kleinübing, foi o responsável pela elaboração do plano de governo. Depois atendeu ao apelo do então senador Jorge Bornhausen e aceitou ser secretário de Projetos Especiais do prefeito Esperidião Amin, em 1989, um sinal para a aliança entre PFL e PDS (atual PP), que se concretizaria em 1990, com Vilson Kleinübing eleito governador pelo PFL e Esperidião Amin senador pelo PDS.
Fernando Marcondes foi o coordenador do plano de governo. Passou a exercer durante dois anos o cargo de secretário de Planejamento e Fazenda, com direito a várias indicações no primeiro escalão.
Auditor rigoroso e permanente do Costão do Santinho
A partir de 1993, dedicou-se inteiramente às suas empresas: a Inplac (Indústria de Plásticos), de Biguaçu, inaugurada em 1994, e dirigida pelo irmão Roberto; e o Costão do Santinho, presidido e comandado pela esposa Iolanda, com obras em execução desde dezembro de 1990.
Nos últimos 40 anos, a melhoria da qualidade de vida em Florianópolis, a partir do turismo e dos serviços, é uma de suas fixações. E o Costão de Santinho, a dedicação plena, com renovação de suas instalações, criação de novas atividades e inovações para proprietários e hóspedes, além de novos espaços para múltiplos eventos.
Não é apenas idealizador do mais premiado empreendimento turístico catarinense. Ele construiu e reside no Costão. Circula com frequência, identifica falhas, faz refeições nos restaurantes, enfim, desde a inauguração é uma espécie de auditor rigoroso e permanente.
Aos 86 anos, três filhos e sete netos, Fernando Marcondes de Mattos perdeu a esposa Iolanda em 2020, depois de 57 anos de casamento, e há quatro anos é casado com a empresária Anna Chris. Acompanha as obras do Costão Estaleirinho I, com 200 apartamentos, situado ao lado do Multiparque Tedesco, em Balneário Camboriú. E faz estudos para o lançamento do Costão Estaleirinho II.
Por tudo isso e muito mais, as mais diversas instituições que o têm homenageado costumam destacar que Fernando Marcondes de Mattos é detentor um dos mais completos currículos de Santa Catarina.
Um resort com projeção mundial
- Sonho de décadas, o mais moderno resort do país foi construído numa vasta área do Norte da Ilha, comprada ao longo de dez anos – Divulgação/ND
- Sonho de décadas, o mais moderno resort do país foi construído numa vasta área do Norte da Ilha, comprada ao longo de dez anos – DivulgaçãO/ND
O sonho de construir no Santinho o mais moderno e premiado resort do Brasil tem mais de 50 anos. Já adulto, Marcondes dedicou-se a corridas por décadas. Com mais de 40 anos, correu a São Silvestre, em São Paulo.
Num dos treinos, deparou-se com a paisagem do morro das Aranhas e da praia do Santinho. O acesso só era calçado até a igreja dos Ingleses. Adquiriu todo o morro e depois foi comprando outras 28 propriedades durante cerca de dez anos.
Viajante atento, colhia ideias e inspirações para seus empreendimentos. O projeto do Costão, com “tudo junto e integrado”, resultou de viagens aos melhores resorts do mundo com a esposa Iolanda e o arquiteto André Schmidt, ambos já falecidos.
Desde as primeiras concepções, questões inarredáveis: a preservação das inscrições em pedras dos índios Carijós, com mais de 5.000 anos, um dos maiores conjuntos de arte rupestre do Brasil; e a proteção da diversificada riqueza da fauna e da flora.
O Costão, nas últimas décadas, beneficiou proprietários e hóspedes como unidade hoteleira e garantiu visibilidade internacional para Florianópolis e Santa Catarina. Justamente por suas características inovadoras, ecológicas, culturais e esportivas, viabilizou a promoção de milhares de eventos que, sem essa opção, teriam ido para outros Estados.
Ali já houve competições da Copa Davis de Tênis, atraindo as atenções do mundo, sobretudo após o sucesso do tenista Guga Kuerten. Outro evento de repercussão mundial foi o World Economic Fórum, com os maiores especialistas e investidores do planeta nas áreas de turismo, educação, tecnologia e serviços.
Digitais de um homem de rara sabedoria

O que aconteceu em Florianópolis e em Santa Catarina na área do turismo tem as digitais de Fernando Marcondes. Há mais de 40 anos criava o Bureau de Turismo, transformado no Convention Bureau, depois o Floripa Amanhã, para defender a preservação ambiental, as inovações tecnológicas e serviços qualificados no turismo. E, mais recentemente, o Floripa Sustentável, que garantiu vários avanços nos melhores planos e empreendimentos da Capital.
Marcondes foi também vice-presidente da Federação Catarinense de Ciclismo, disseminando o uso de “bike” numa época em que esta prática desportiva estava apenas engatinhando. Chegou a oferecer o projeto de um velódromo em terreno precioso na Beira-Mar Norte. Se tivesse sido inaugurado, daria projeção internacional para Florianópolis.
Em todas as entidades que criou, dirigiu ou participou, sempre um cidadão inteligente, dotado de rara sabedoria, de grande sensibilidade humana e solidário com as causas sociais e públicas.
A disputa Sorbonne-Paraguaios
Um dos episódios mais marcantes nas eleições de 1965 em Santa Catarina envolveu dois grupos políticos que integravam o governo estadual. De um lado, os técnicos e jovens defendendo a candidatura do professor e economista Alcides Abreu, a cabeça pensante do extraordinário governo Celso Ramos, denominados “turma da Sorbonne”. De outro, os liderados por Renato Ramos da Silva, conhecidos por “paraguaios”, advogados da candidatura do deputado Ivo Silveira, presidente da Assembleia Legislativa.
Líder maior do PSD, Aderbal Ramos da Silva convocou todos os deputados pessedistas em sua residência na avenida Trampowski e fechou o portão com cadeado. Ninguém saía e ninguém entrava. Ali foi decidido que o candidato ao governo seria Ivo Silveira, que foi oficializado na convenção, disputou a eleição e derrotou Antônio Carlos Konder Reis, o candidato da UDN. No dia seguinte, Fernando Marcondes de Mattos, que havia participado da elaboração do plano de governo de Alcides Abreu, tomou uma decisão: pediu demissão e ficou desempregado.