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A jornada de Noah, bebê prematuro que passou 150 dias na UTI em Florianópolis: “Joia rara”

Foi no dia 6 de outubro de 2024 que Noah Campos Silva veio ao mundo, na Maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis. Com 23 semanas e cinco dias, o pequeno pesava somente 635 gramas e, pelos próximos 150 dias, teria uma batalha pela frente. Além da equipe médica, que agora o apelida de “bebê diamante” devido à recuperação que desafia estatísticas, Noah estava acompanhado da mãe, Dheryolynny Silva Campos, que esteve com ele todos os dias, das 6h às 20h, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal.

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As chances de sobrevivência dos bebês que nascem abaixo de 24 semanas são extremamente pequenas, de acordo com Andréa Antunes Caldeira de Andrada Ferreira, chefe do Serviço de Obstetrícia da Maternidade Carmela Dutra. A médica acompanhou Noah durante os quase cinco meses que ele passou internado.

— Desde o início, percebeu-se que o Noah era um menino forte e determinado a viver. [Ele] foi superando todos os desafios apresentados pela prematuridade — conta a médica.

No Brasil, a taxa de sobrevivência para os bebês que nascem antes das 25 semanas é de aproximadamente 50%, sendo que a taxa diminui quanto menor for a idade gestacional, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES/SC). Noah foi o primeiro bebê com tal idade gestacional a receber alta hospitalar na Maternidade Carmela Dutra.

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Parto prematuro foi um susto

Para a mãe de primeira viagem, Dheryolynny, o parto prematuro foi um susto.

— [Durante] o pouco tempo que eu fiquei grávida, foi uma gravidez saudável. Eu me sentia bem, fazia as coisas direitinho, trabalhava. Não me interferia, eu não sentia nada devido à gravidez. O parto prematuro foi realmente um susto — conta a assistente social de 32 anos.

Ela ouviu pela primeira vez sobre a prematuridade quando foi internada com dores, no dia 30 de novembro do ano passado. Naquela madrugada, ela passou a noite com dor e sangramento. No final da manhã, foi para a maternidade.

— No momento em que eu internei, eu soube que ele poderia nascer a qualquer momento. Eu já estava com dois dedos de dilatação — relembra.

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Foi neste momento que os médicos começaram a chegar e conversar com Dheryolynny. Na ocasião, Noah ainda era um bebê muito pequeno, de 500 gramas. Como ele podia nascer a qualquer momento, os médicos optaram por deixar a mãe internada em repouso absoluto e dentro de uma dieta hipercalórica. Quando o Noah chegasse aos 600 gramas, o parto poderia ser feito.

— Ele só tinha 1% de chance de sobreviver. Todos os médicos que vieram falar comigo me reforçaram o mesmo. Mas eu consegui fazer a dieta, aumentei algumas gramas, e ele conseguiu nascer com 635 gramas.

Nesses casos, o trabalho feito pelos médicos de alinhar as perspectivas e expectativas é importantíssimo, segundo Andréa.

— As chances de sobrevivência dos bebês que nascem abaixo de 24 semanas são muito, mas muito pequenas, e aqueles que sobrevivem dificilmente escapam de ter alguma sequela. É sempre necessário explicar tudo que provavelmente pode acontecer com o bebê e com a própria paciente, informar por quais procedimentos a gestante vai passar, e também o bebê, caso o nascimento ocorra de forma tão precoce — esclarece a médica.

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Nos casos similares aos de Noah, é possível utilizar medicamentos e até procedimentos cirúrgicos para evitar os nascimentos tão prematuros, mas isso não foi possível.

— Quando o trabalho de parto está em fase muito avançada, não existem ferramentas para postergar o nascimento — explica Andréa.

Os 150 dias na UTI

Durante os 150 dias de Noah na UTI neonatal, haviam os dias de melhora, e os dias em que a equipe médica tinha que dar dois ou três passos para trás e recomeçar.

— Desde que o Noah nasceu, eu fiquei com ele na maternidade. No meu pós-alta do pós-parto eu vim para casa, e no outro dia eu fui ficar com ele. Todos os dias eu ia às 6h, 7h e retornava entre 19h, 20h. Eu passava o dia todo com ele, mas não tinha muita coisa que eu podia fazer. O meu cuidado como mãe era estar lá com ele. Só podia dar a minha presença — relata Dheryolynny.

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A mãe conseguiu tirar leite para Noah somente por um mês. Apesar de muitas tentativas, o emocional afetado a impediu de produzir mais.

— Eu só ia ficar com ele. Acompanhava os quadros de melhora, e às vezes de lutar para melhorar. Como mãe, eu reconheço que a gente não tem muito o que fazer. A gente só fica lá, faz companhia e nem sempre pude pegá-lo no colo. Tinha momentos que ele tinha muita queda de saturação, então não dava pra fazer manuseios. Então eu ficava lá, sentadinha e olhando para ele.

A Maternidade Carmela Dutra é referência em Santa Catarina em gestação de alto risco e atende aproximadamente 300 recém-nascidos por ano na UTI neonatal.

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Noah ficou 72 dias entubado, e mais 34 dias na ventilação não invasiva com pressão positiva (CPAP), uma técnica que fornece ar pressurizado para manter as vias aéreas abertas, ajudando a respirar. Depois, ele usou um cateter de alto fluxo (CNAF) — dispositivo que fornece oxigênio aquecido e umidificado para pacientes com insuficiência respiratória — e, gradualmente, foi para um um cateter de oxigênio (O2) de baixo fluxo.

O principal desafio, de acordo com a médica Andréa, foi o desenvolvimento pulmonar de Noah. O caso dele contou com o suporte de uma equipe multidisciplinar e até mesmo a consultoria de especialistas de fora do país.

— Trabalhar com um bebê prematuro assim exige cuidado, menos manipulação e mais atenção. Para isso, é preciso foco de toda a equipe, um trabalho em conjunto mesmo. Todos tivemos que aprender, pois se trata de um paciente diferenciado. Fizemos o possível para que tudo desse certo, garantimos que ele saísse com o mínimo de sequelas e que pudéssemos entregá-lo à mãe — conta Susian Cássia Liz Luz, enfermeira chefe da UTI Neonatal.

Por conta da prematuridade, Noah, agora com cinco meses, desenvolveu displasia broncopulmonar (DBP), doença pulmonar crônica que normalmente afeta os recém-nascidos prematuros. Ele também acabou desenvolvendo uma hérnia inguinal, causada por lesões pulmonares que alteram as vias respiratórias, e que só poderá ser tratada via procedimento cirúrgico.

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— Ele ainda faz fisioterapia respiratória, porque ainda tem muito desconforto quando mama ou quando chora — relata a mãe.

Quando recebeu alta e foi para a casa, aos cinco meses, a família levou o oxigênio, que deve ser usado somente quando necessário.

Oxigênio foi dado à família (Foto: Arquivo Pessoal)

— Quando há necessidade, a gente conecta, quando não, a gente trabalha com ele em ar ambiente, para ele se acostumar.

Prematuridade é uma das principais causas de óbito infantil

O nascimento prematuro, atualmente, é uma das principais causa de óbito infantil, além das inúmeras sequelas que essas crianças podem ter, de acordo com a chefe do Serviço de Obstetrícia da maternidade.

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— Combater a prematuridade é um grande desafio para nós obstetras e outros profissionais de saúde. É uma questão de saúde pública, porque implica em acompanhamento e seguimento por tempo indeterminado, além de comprometer muitas vezes a dinâmica familiar e até o orçamento das famílias — comenta.

Por isso, a história do nascimento de Noah é considerada um marco na história da maternidade.

— A sobrevivência de bebês tão prematuros ainda é muito rara para nossa realidade, especialmente abaixo das 24 semanas e ainda mais com o desfecho lindo que todos estamos testemunhando, de um menino forte que vêm se desenvolvendo de forma excepcional, surpreendendo a todos que prestam assistência — diz ela.

A equipe médica, orgulhosa do pequeno, o apelidou de “bebê diamante”, uma “joia rara e especial”.

— Sabemos que Deus tem um plano especial para esse menino e sua família, e estamos muito felizes e orgulhosos por ter tido a honra de fazer parte desta história.

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*Sob supervisão de Andréa da Luz

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