Após mais de 10 horas de julgamento, o Tribunal do Júri da Comarca de Indaial condenou, nesta terça-feira (15), um homem de 40 anos a 18 anos e 11 meses de prisão em regime fechado por tentativa de feminicídio.
O crime, ocorrido em fevereiro de 2024, teve como vítima Suelen Aparecida de Melo, de 31 anos, que ficou paraplégica após ser brutalmente atacada pelo ex-companheiro com golpes de faca.
Suelen acompanhou toda a sessão no Fórum de Indaial, visivelmente emocionada e amparada por familiares. Ao fim do julgamento, fez um apelo comovente a outras mulheres que vivem relacionamentos abusivos:
“Eu tinha medida protetiva contra ele, mas acabei tirando porque ele é o pai dos meus filhos. No fim, eu quem fiquei com as marcas. Se protejam. Não subestimem sinais de violência.”
O crime
O ataque aconteceu no dia 26 de fevereiro de 2024, por volta das 12h50, no bairro Warnow, onde Suelen vive com os filhos. Segundo a denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), o agressor, inconformado com o fim do relacionamento, viajou de São Paulo até Indaial e invadiu a casa da ex-companheira. A porta estava destrancada.
Dentro da residência, o homem surpreendeu Suelen, a enforcou e arrastou até a sala, onde desferiu ao menos quatro golpes de faca. O filho mais velho do casal, de 15 anos, presenciou toda a cena e implorou para que o pai parasse. A mãe da vítima, que é vizinha e tentou intervir, também foi agredida.
Suelen foi levada às pressas ao Hospital de Indaial, passou por cirurgias delicadas e ficou em coma por 13 dias na UTI. Quando despertou, recebeu a notícia de que não voltaria a andar. Exames comprovaram a lesão irreversível na medula espinhal.
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Julgamento e condenação
O réu foi preso ainda no mesmo dia e estava em prisão preventiva no Presídio Regional de Blumenau. No tribunal, o Ministério Público (MPSC)sustentou que o crime teve motivação passional e enquadra-se como tentativa de feminicídio — homicídio contra mulher por razões da condição de sexo feminino, previsto no Código Penal.
A promotora de Justiça, Patrícia Castellem Strebe, reforçou a gravidade da violência e a importância da condenação:
“Assim como no caso de Maria da Penha, Suelen teve sua vida transformada por completo pela brutalidade de um homem que não aceitava o fim do relacionamento. A justiça foi feita.”
Uma nova realidade
Hoje, Suelen vive com os cinco filhos na mesma casa onde foi atacada, agora adaptada para sua condição. Ela depende de pensão por invalidez e do apoio de familiares para seguir com a rotina. O relato da jovem é doloroso e resiliente:
— “Em um dia, eu estava de pé, trabalhando, cuidando dos meus filhos. No outro, estava em uma cama, sem sentir as pernas. Ainda estou viva, mas só eu sei o que carrego dentro de mim.”
A mãe da vítima, Rosângela de Melo, também esteve presente no julgamento e comemorou o desfecho: — “A saúde plena da minha filha não volta, mas agradeço por ela estar viva e por esse homem pagar pelo que fez.”
Um alerta que ecoa
O caso de Suelen relembra o emblemático episódio vivido por Maria da Penha Maia Fernandes, que se tornou símbolo da luta contra a violência doméstica no Brasil. Assim como Maria da Penha, Suelen sobreviveu, mas pagou um preço alto por confiar em um relacionamento abusivo.
Em seu testemunho final, a vítima deixou um recado que ecoa como um grito de socorro para tantas outras mulheres:
— “Não esperem o pior acontecer. Se você sente medo, isso já é um sinal. Procure ajuda, denuncie, saia enquanto é tempo.”