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Cetil, a processadora de dados mais veloz do asfalto

Quem conhece este escriba há tempo sabe que minha vida não se limita ao rádio e a história de Blumenau. Neto de taxista, sobrinho de taxista e caminhoneiros, falar de automóvel faz parte do meu arquivo de conteúdos em uma boa conversa, sobretudo os velhinhos, aqueles que não dispensam cambio manual, direção mecânica, motores carburados e por ai vai.

Ao mesmo tempo, acompanho automobilismo desde os três anos de idade, daqueles que nem liga para a máxima do “ter um brasileiro na pista” e que se irrita com a viuvice exagerada por Ayrton Senna (potencializada com a recente produção do Netflix) e com as galhofas feitas à Rubens Barrichello, um dos melhores brasileiros no grid (mas muitos não estão prontos pra esta conversa).

Misturar história de Blumenau ao mundo da velocidade pode parecer conto do vigário, mas a ligação é grande entre alguns elementos aqui presentes: a 1 Hora de Blumenau disputada nos anos 1960 (que já falamos aqui no Portal), a Fórmula 200, a familia Reuter e a tradição deles na pista, o gigante Gunnar Vollmer, que aventurou-se em grandes empreitadas no automobilismo nacional nos anos 1980 e 1990 até chegarmos a Christian Mohr e Silvio Morestoni nos velozes esportivos de Stuttgart, na atual Porsche Cup.

Ligueli saindo da Floriano rumo a subida da 7, na 1 Hora de Blumenau (Antigamente em Blumenau)
Gunnar Vollmer na Copa Shell, em 1989, em dupla com o mineiro Toninho Da Matta (Arquivo Pessoal / Piloto Gunnar Vollmer)
Cristian Mohr no alto do pódio na Porsche Cup (Rodrigo Aguiar Ruiz/RR Media)

No entanto, algumas páginas ainda são desconhecidas, verdadeiros achados que surpreendem qualquer entusiasta, tanto do carro quanto da memória. Por isso que, em meio a coleção de antigas revistas Quatro Rodas que tenho em casa, não pude deixar passar um detalhe tão curioso quanto raro: como a Cetil, pioneira no processamento de dados em SC e criada em Blumenau foi parar no automobilismo em fins dos anos 1970?

Elementos da nossa memória, por mais diminutos que sejam, sempre se encontram nos lugares mais improváveis, vide o que foi o causo da lata do Café Cometa. Esta, no entanto, exigiu um pouco mais de massa encefálica para ter alguma informação lógica, ligar a capital da cerveja ao período de ouro do automobilismo brasileiro, permeado entre a emoção das pistas, a confusão da organização e a incerteza da troca da gasolina pelo álcool nos tanques de combustível.

A Cetil, primeiramente. Sigla para Centro Eletrônico da Indústria Textil, obra de Ingo Greuel e Décio Salles em março de 1969 sendo a pioneira no mercado de informática catarinense em tempos que um aparelho considerado “simples” ocupava quase uma casa inteira. A inciativa refletia a evolução de pensamento da nova geração a frente de tradicionais marcas têxteis da cidade e o interesse de criar um bureau de informática na região.

(Antigamente em Blumenau)

Hering, Teka, Sulfabril, Garcia, Artex e Cremer foram as primeiras a entrar no esquema de processamento que, pouco a pouco, foi espalhando método e estrutura de trabalho pelo Brasil e sendo o ponto de referencia no segmento para este lado do mapa. Era mais um exemplo do pioneirismo tradicional da cidade que marca-se nos livros de história e… na lataria de um “penico atômico“.

Não é um termo cômico este último que destaco. No universo do campeonato nacional de turismo Divisão 3, os Fuscas eram grande parte do certame que reunia alguns dos nomes mais conhecidos das pistas brasileiras em pegas emocionantes em algumas das pistas mais famosas do país. A mecânica Volkswagen era maioria até mesmo nas pistas, onde os besouros coloridos e invocados ganhavam o tal apelido característico.

Embora badalada, os tempos não eram, necessariamente, os mais fáceis para pilotos, donos de equipe e organizadores. Fora os custos operacionais (que, apesar de não se equipararem aos de hoje, já eram altos), a organização dos campeonatos padecia das mesmas derrapadas que o futebol também tinha nos certames nacionais incluindo a falta de autódromos. Sem contar o risco de vida dobrado em cada curva e o impacto da crise do petróleo, que forçou a mudança de combustível para o álcool em dado momento do fim da década.

O resto era puro braço, criatividade e engenhosidade de pilotos e mecânicos que viravam o carro do avesso, na garagem ou acelerando fundo nas pistas, em busca de vitórias ou de histórias para contar aos amigos. A Divisão 3 era uma das várias divisões criadas nos anos 1970 respeitando regulamentos distintos, que iam de 1 a 6, sendo a 3 a mais concorrida e popular.

A equipe Cetil-Presidente (André Bonomini / Rodrigo Carelli)
Da esquerda para a direita: Ricardo Mogames e Amadeu Campos (André Bonomini / Rodrigo Carelli)

Em fins da década, no entanto, os Fuscas já perdiam espaço no grid para veículos mais possantes, como os Chevette e Passat, mas os penicos ainda mantinham vigor no asfalto e monopolizavam as atenções nos dias de velocidade. Entre os pilotos mais fortes do grid estavam os carros de Amadeu Campos e Ricardo Mogames, dois Fuscas invocados que carregavam na pintura branca-e-azul os dísticos da já tradicional empresa blumenauense.

A Cetil andava em praças como Interlagos, Tarumã, Jacarepaguá e Brasília a mais de 180 por hora e não fazia feio. A equipe – denominada Cetil-Presidente – era uma das grandes forças do campeonato, tendo como rival constante o colorido penico de Arturo Fernandes, sobretudo nas temporadas de 1979 e 1980, onde a marca acompanhava a dupla de botas.

Foram dois campeonatos intensos conquistados por Arturo mas sempre com a sombra dos dois, sobretudo de Amadeu, notavelmente o mais experiente da dupla de equipe. Um time com boa estrutura, prova dos contatos certos nos lugares certos, e isto não tinha como não ser diferente sobretudo para Ricardo Mogames, talvez o elo que levou a processadora de dados às pistas brasileiras.

O Fusca de Ricardo Mogames: ligações de tio com a Cetil podem ter ajudado a trazer a empresa às pistas (André Bonomini / Rodrigo Carelli)
(André Bonomini / Rodrigo Carelli)

Como referencia em processamento de dados, a Cetil já contava com empresas parceiras em várias partes do Brasil em fins dos anos 1970. A tradicional Lenços Presidente, nascida em São Paulo em 1945, era um destes exemplos, famosa sobretudo pelos clássicos lenções finos de algodão que fabrica até hoje na planta de Mogi-Guaçu. Aquela altura, o pai de Rick Mogames era proprietário da marca e uma das irmãs era casada cm um dos donos da Cetil.

Pode não ser o elo correto, mas dentro das pesquisas feitas e conversas com entusiastas do automobilismo nacional antigo, como Rodrigo Carelli (do Autoentusiastas e amigo deste escriba), esta seja, talvez, a hipótese mais certeira com relação a aparição da Cetil nas provas da Divisão 3, ilustrando uma das pinturas mais belas entre os famosos “penicos atômicos” daqueles tempos.

De resto, partindo de achados fotográficos, ficaram as memórias. Das disputas de Amadeu Campos e Ricardo Mogames restaram apenas os dois vices de Campos em 1979 e 1980, anos derradeiros da Divisão 3, que a partir de 1981 passaria a se chamar Campeonato Brasileiro de Hot-Cars até configurar-se no Brasileiro de Marcas e Pilotos nos anos seguintes.

(André Bonomini / Rodrigo Carelli)

Ao contrário da Lenços Presidente, a Cetil deixou de existir formalmente nos anos 1990, mas foi a semente necessária para a consolidação de outros nomes no campo dos sistemas e informática do Vale, como a Sênior e a GovBR, esta última dita sucessora “espiritual” da inciativa de Greuel e Salles nos ainda amadores anos 1960.

Mas esta breve crônica histórica não acaba aqui. Ela é incompleta e, talvez, um tanto errática. As poucas informações sobre a empreitada da equipe e da relação da Cetil com a trupe carecem de mais detalhes. E por isso, este escriba toma a liberdade de deixar as linhas abertas para quem quiser enriquecer e colaborar com detalhes mais sobre esta aventura veloz da pioneira informática do Vale nas pistas brasileiras.

História se faz com mais de duas mãos e qualquer novo detalhe é bem-vindo. No mais, só mesmo a memória curiosa dos Fuscas mais batutas da paróquia no automobilismo nacional e de como um símbolo do futuro – a informática – andou veloz como eles nos bons, românticos e perigosos tempos do automobilismo brasileiro.

(André Bonomini / Rodrigo Carelli)

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